quarta-feira, 29 de junho de 2022

Nunca foi pelos 20 centavos

No último final de semana, minha esposa e eu fomos a um mercado para realizar as compras do mês. Essa tem sido nossa rotina nos últimos 12 anos de casamento. Todo final de mês vamos ao mercado comprar os suprimentos básicos que, em tese devem durar até o mês seguinte. Acredito que essa é a rotina de muitas famílias brasileiras, portanto, nenhum ponto a destacar deste fato.
O que cabe destacar é que em nossa última ida ao mercado, ao entrar no corredor dos leites, ficamos alinhados com diversas pessoas que, com expressões que variavam entre a incredulidade e o desespero, encaravam as gôndolas. De súbito, também olhamos, e o que vimos foram etiquetas amarelas, colocadas logo abaixo das prateleiras dizendo: R$ 5,99... 
R$ 5,99! 
Automaticamente lembro que em em junho de 2013, tendo como premissa o aumento da tarifa do transporte público, o país foi tomado por turbas de manifestantes, que com máscaras, paus e pedras, colocaram fogo - literalmente - no país.
Hoje, além do leite custar impraticáveis R$ 5,99, temos gasolina a R$ 7,00, Diesel custando quase R$ 8,00, inflação galopante, desemprego e perda sistemática da capacidade dos brasileiros em ter uma vida minimamente digna.
Mas me parece que nada disso importa. Não importa, pois hoje fica evidente que nunca foi pelos tais 20 centavos. O que se imaginava ser um movimento orgânico, de um povo cansado dos desmandos daqueles que o governam, cada vez mais se mostra como algo orquestrado, com objetivo claro e alvo definido.
Tal qual os nossos "amigos" caminhoneiros, que pararam o país, indicando que o preço do combustível inviabilizava seus negócios. Talvez eu não seja tão bom de matemática, mas desde aquele episódio, o preço do Diesel aumentou uns 150% ou mais.
A conclusão que chego diante de tudo isso é que os 20 centavos foram apenas subterfúgio para que alguns segmentos pudessem enriquecer ainda mais às custas do povo. Ou vocês acham que dólar alto e taxa de juros no espaço favorece os pobres?
Falando um pouco sobre economia agora, tenho certeza que muitos setores não estavam "lucrando" tanto quanto gostariam com a estabilidade da moeda e dos juros. Portanto, em algum momento, eles decidiram que era de sacudir as coisas. E nada melhor que um povo ignorante e iletrado para usar como bucha de canhão, para mudar "isso tudo que está aí".
Essa construção que vem sendo feita há algum tempo está entregando exatamente aquilo que era o objetivo: maximização da riqueza de alguns. Enquanto isso, o povo vai pagando essa conta, que aumentou muito mais que 20 centavos.

terça-feira, 30 de junho de 2020

Dark - um fim como deveria ser

Tropecei na série Dark quase por acaso. Em uma daquelas noites insones há cerca de dois anos, 'zapeando' no Netflix, me deparei com ela ali, sem muito alarde e pompa. A sinopse despertou minha curiosidade, pois entendi que poderia haver algo a mais naquela série, além do fato de que se tratar de algo produzido na Alemanha, o que era inédito para mim.
Confesso que ao longo dos episódios, em alguns momentos, não pude me furtar de pensar em outra famosa série que esbarrei pouco mais de 16 anos atrás: Lost. 
Fui introduzido no mundo das séries por Lost. Lembro como se fosse hoje do episódio 'Pilot'. Nunca havia assistido - até aquele momento - algo que me arrebatasse tanto e tão rápido. Ao final daquele episódio de pouco menos de uma hora, eu tinha certeza de que estava diante de algo novo que marcaria época. 
E foi assim nos anos seguintes: episódios como "A Tale of Two Cities", "White Rabbit", "Man of Science, Man of Faith" trago comigo até hoje, presos na retina. A escotilha de Desmond, o barco da Penny, a "peruca" do Locke, a redenção do Charlie.
Além de ser o primeiro seriado que acompanhei desde o início, foi minha primeira experiência com algo multiplataforma. Decifrei os 'easter eggs' no site da Oceanic Airlines, catei os vídeos da Hanso Foundation na internet, e fiz os desafios online que ora ou outra surgiam nos fóruns de discussão e nas páginas do falecido Orkut.
Mas Lost se 'perdeu' (tudumtss). Não sei bem precisar quando, mas arrisco dizer que foi na oportunista tentativa de alongar a série por tempo maior que o previsto originalmente. Às pressas, personagens surgidos do nada tomavam tempo de tela, em histórias que começavam e terminavam, e que em nada agregavam para sabermos sobre a Iniciativa Dharma, sobre a Fumaça-Negra ou os ursos polares na ilha tropical. 
E quando comecei a assistir Dark, fiquei com medo, confesso. A fórmula parecia estar sendo repetida: muitas perguntas sendo deixadas pelo caminho, viagens no tempo... Já tinha visto essa história antes. Mas, surpreendentemente, não foi o que vi. No fim, meu medo foi infundado. 
A impressão que tive é que os roteiristas de Dark sempre souberam o caminho que seguiriam e o desfecho de tudo. Nenhuma oferta tentadora os fizeram querer aumentar o que já estava definido desde o início, podendo causar confusão (mais confusão, no caso) aos espectadores que, assim como eu, não alardeavam muito a série para não incorrer em no risco de serem chamados de idiota, como aqueles que foram fiéis à Lost. 
Dark não é uma série simples de assistir. Suas idas e vindas, com pulos de personagens no tempo e em linhas do tempo diferentes, com o cruzamento do mesmo personagem com seu 'eu' diversas vezes, em muitos momentos, me fazia questionar se os escritores conseguiriam desatar aquele 'nó'.
A opção deles para garantir um final bom, foi fazer o óbvio (embora o conceito de 'obviedade' em Dark não seja tão 'obvio'). Não se renderam a ideias mirabolantes e foram fiéis à narrativa. Explicaram tudo que era necessário para que quem acompanhou esses três anos de série, ao final, pudesse respirar relaxado por ter tido o resultado que esperava. Sem sobressaltos, sem invencionices. Apenas um bom final para uma boa história. Essa foi Dark. 

segunda-feira, 11 de maio de 2020

E se nada houvesse no fim
Como um livro sem a última palavra? 
Quando nossa música perdeu a melodia
Pois ela não toca mais o coração? 
Por que você não tenta olhar a lua 
Deixando nosso céu escurecer? 
É para onde foram as estrelas 
Que apontavam tão bem a direção? 
Onde você estava
Quando eu precisei de você? 
Como ficamos tão distantes 
Muito mais que o espaço de uma cama? 
Por que não cumpriu as promessas 
Ditas nos momentos mais íntimos? 
Onde estamos nós 
Quando o que restou é apenas saudade? 

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Honestidade não pode ser exceção

Tenho um filho de 1 ano e 9 meses, e uma das principais diretrizes que quero seguir para sua criação, é fazê-lo entender o quão importante é a honestidade. Mas não essa honestidade que muitos alardeiam, mas nem tantos exercem.
Falo de ser honesto para si mesmo, independentemente dos outros. Independente dos políticos que temos, ou dessa sociedade corrupta na qual estamos inseridos. Preciso que ele entenda o valor de ter a consciência tranquila, não se deixando medir "pela régua dos outros".
O fato de querer fazer dele uma pessoa melhor, me faz querer ser melhor. Melhor pai, melhor homem, melhor cidadão. Não há forma mais fácil de ensinar algo para uma criança do que através de nossos  exemplos.
Mas o mundo, parceiro... Ele não quer saber da tua índole. Ele nao se importa com tua honestidade. Diariamente, tua ética é testada por esse mundo que está pouco se lixando para você.
Dias atrás, um motorista de ônibus distraído bateu na traseira do meu carro. Me mantive calmo, afinal, a empresa de ônibus tem seguro e está tão evidente a responsabilidade do motorista que, ao ao meu ver, o problema seria rapidamente resolvido. Mas lembrem-se: o mundo não está nem aí para o que tu acha!
Hoje, uma pessoa que se qualificou como gerente da empresa de ônibus, me ligou e me disse o famoso "cada um paga o seu", pois ele entendia que o incidente não era responsabilidade do motorista do ônibus e, por consequência, não era responsabilidade da empresa. Do alto de sua arrogância, disse que se eu não tivesse gostado, que fosse à justiça, pois não haveria reparação do dano.
Esse sujeito é a síntese do que o mundo faz com você. Ele é injusto, cruel e tá pouco se lixando para tua índole. 'O azar' é seu se você quer ser honesto e correto. O mundo é dos espertos.
Sabem o porquê ele fez isso, não é? É inerente à atividade da empresa de ônibus que ocorram acidentes. Provavelmente, a empresa em sua ânsia de lucro, não fornece treinamentos e veículos decentes aos motoristas. Portanto, devem ocorrer muitos acidentes iguais ao meu. Mas se eles fossem pagar por todos os acidentes provocados por eles, a empresa não seria viável economicamente.
Solução? Não pagar! Mandar o sujeito procurar a justiça, pois assim eles podem ganhar tempo. Além disso, acredito que muitas pessoas acabam pagando seu prejuízo e não correm atrás de seus direitos. Ou seja: "malandragem", "jeitinho", ou sendo mais explícito, mau-caratismo mesmo.
Mas isso não vai me dobrar, não vai me fazer mudar de ideia. Minha índole permanece inabalada, mesmo sendo colocada à prova por esse mundo que não se importa com você. Continuarei ensinando meu filho que o único caminho possível é ser honesto, mesmo que tudo em sua volta indique o oposto. Eu não deixarei de acreditar na verdade, mesmo que a mentira pareça ser mais forte.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Conto

Quando tudo se perdeu? Essa e outras perguntas similares ecoavam na sala vazia, como o tique-taque de um relógio pontual e implacável. Ele não tinha resposta. Ele só tinha perguntas e lembranças desordenadas, que pareciam nem mesmo pertencer àquela vida. O que deu tão errado?


Tudo sempre pareceu tão certo, ao ponto de que ele tinha a impressão de que era a única coisa certa de sua vida. Era o farol que o conduzia para longe das pedras e armadilhas de mares turbulentos. Mas hoje, o feixe de luz se apagou, e agora ele se via em mares revoltos, sozinho.


No início, parecia trivial, algo passageiro, afinal de contas, eram tão diferentes e habitavam realidades tão particulares, que não tinha como funcionar. Porém, o tempo foi passando, e eles foram entendendo que, apesar de diferentes, eram parecidos em suas dores. E elas doíam tanto dentro de suas almas, que fazia todo o sentido ter alguém para dividir fardos tão pesados.


Só que, com o passar do tempo, ele já tinha aprendido a compreender melhor o mundo em que vivia, e percebeu que carregar tanta dor consigo só deixava a caminhada mais difícil e tortuosa. Desta forma, atirou tudo que lhe pesava o coração pela janela e pôde viver, finalmente, um sentimento completo ao lado dela. Porém, talvez tardiamente, descobriu que ela não conseguia se desvencilhar do passado e da dor que lhe infligia tanto sofrimento.


Foram anos de conversas, lágrimas, outras conversas, outras lágrimas. Por vezes, teve vontade de gritar com ela para livrá-la dos fantasmas, mas não seria muito educado. Outras vezes tentou ajudá-la a curar suas dores, de todas as formas que conhecia. Mas no final, sempre a decepção de não ter conseguido ajudar acabava por surgir, lhe dando um soco na cara. Você achou mesmo que conseguiria?


O que tardiamente ele descobriu é que ela, na verdade, nunca quis se livrar da dor. Ela já tinha a incorporado suas cicatrizes em sua personalidade de forma tão profunda, que já não conseguia dissociar aquela sombra de seu espírito bom. Aquilo, no final, era ela mesma, e já não havia mais tempo de modificar isso. Porque demorou tanto tempo para perceber?


E com o tempo, as coisas irremediáveis foram ganhando importância, e os afastando, pouco a pouco. Lembrou com tristeza das conversas intermináveis durante as madrugadas. E a angustia do afastamento, sempre presente nos raros momentos em que não estavam juntos. Hoje, conversas frias sobre o tempo ou sobre a conta de luz. Os bilhetinhos de amor, outrora deixados em lugares estratégicos, com o claro intuito de surpreender, deram lugar às intermináveis listas de supermercado. Como deixaram chegar a este ponto?


Um dia, olhou para o lado e viu uma estranha. Eles estavam tão distantes como jamais estiveram. Ela tão amarga de suas dores, que seus olhos se tornaram frios e cinzas, envoltos numa aura de cansaço e, lá no fundo, uma ponta daquela tristeza que, no final, ele descobriu que sempre esteve os acompanhando. Dormindo com eles em sua cama, nas noites em que ela chorava sozinha no escuro, enquanto ele, finalmente, conseguia dormir de novo.


segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Primeiro texto da paternidade

Durante muitos meses, mesmo antes do Pedro nascer, penso em algum texto que eu poderia escrever sobre meu filho, ou por ter me tornado pai. A tarefa tem se mostrado muito mais difícil do que parecia ser no início.
Primeiro, pensei em contar algo sobre a expectativa de ser pai. As preocupações, anseios e medos. Mas devo confessar que o processo da gravidez de minha esposa foi tão tranquilo que quase nenhum momento tive medo ou temi por algo. Mesmo o nascimento do meu filho foi um lindo parto normal, dentro do planejado.
Ver o Pedro tão pequeno, tão desprotegido e frágil poderia ter me deixado um pouco temeroso, até mesmo pelo fato de ser um pai de primeira viagem. Porém, algo mais forte ascendeu em mim. Ele precisava de mim, firme e forte, para protegê-lo e amá-lo irrestritamente. Não havia tempo para medos e banalidades.
E agora que o Pedro está prestes a completar 1 ano, a única coisa que percebi é que nunca tive medo. A paternidade, que para alguns, parece ser um fardo pesado do qual gostariam de se livrar de uma vez, para mim, foi uma das coisas mais naturais com que me deparei.
Ser o pai do Pedro parece ser a coisa mais certa que fiz a vida toda. O antes, parece nunca ter existido cada vez que vejo seu sorriso banguela, ou quando ele chora de noite, seja por medo ou qualquer outra coisa. Eu hoje, sou PAI! Assim mesmo, em letras garrafais.
Me tornei o tipo de sujeito do qual mais tinha raiva em outra época da vida. Mostro as fotos do meu filho a todos, mesmo sem que meu interlocutor peça. Quer coisa mais chata que isso? Choro em comerciais de supermercados e farmácias, ainda mais se trouxer uma criança como destaque. Me tornei um enorme 'babão'!
E você aí acha que estou incomodado com isso? Bem pelo contrário! Sou cada dia mais feliz com Pedro. Cada nova conquista dele é uma conquista minha. Eu, que nunca fui afeito a um sentimentalismo barato, já comecei a me preparar psicologicamente para a formatura do 'prezinho'. Talvez eu não saiba lidar realmente com isso.
Se há algo que eu possa deixar como sugestão com esse texto é : amem seus filhos! Não tenham medo de se entregar! Um amor deste tamanho é uma das experiências mais incríveis que você pode ter, e passa tão rápido. Esse ano passou tão rápido. E enquanto eu tiver forças, e enquanto o destino permitir, viverei a paternidade sempre da forma mais intensa que for possível, o que, provavelmente, fará o Pedro me odiar na adolescência. Mas um dia, certamente, ele vai entender...

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Uma mentira contada mil vezes se torna verdade

Hoje li, estarrecido, um texto publicado por um tal de "Rolo Compressor" onde, supostamente, ele tenta travar uma cruzada contra o racismo. Em síntese, ele faz um apanhado histórico (cheio de "leituras particulares" da história), para provar seu ponto de vista de que a torcida do Grêmio é formada de um bando de racistas e que nossa história é a prova disso.
Confesso que nem sei ao certo se deveria responder aos diversos absurdos que li. Também não entendi muito bem se ele realmente conseguiu provar seu ponto de vista, pois existem tantos "lapsos" na história que o amigo lá tentou contar, que chega a ser constrangedor.
De toda forma, quero destacar os principais pontos que mais chamaram a atenção, e que acredito que caibam observações, afinal, aparentemente, foram "esquecidos"...
Por exemplo, em seu texto, o tal Rolo fala que a aceitação de jogadores negros no Inter foi anterior a do Grêmio. Oficialmente, talvez. Não sou capaz de negar que a origem germânica dos fundadores do meu clube certamente era carregada de uma visão eugenista de mundo. Porém, dados históricos comprovam que Antunes, no longínquo ano de 1913, foi o primeiro negro a jogar em dos clubes da dupla.
Claro que para manter a história do "clube do povo" imaculada, muitos preferem, comodamente, ignorar essa parte da história.
Outro fato que não vi o blog aquele aprofundar foi a motivação que fez com que Lupicínio Rodrigues, um sambista, negro e pobre, torcesse pelo Grêmio. Não vou contar a história completa, que pode ser lida AQUI. Mas digamos que um certo clube dito do povo rejeitou a inscrição de um clube formado por negros, para que participasse da liga metropolitana.
Querem mais? Jair, jogador campeão brasileiro na década de 1970 já alertava de que havia preconceito no co-irmão, ou alguém vai negar essa matéria aqui? Poderia parar por aqui, mas não posso me furtar de lembrar do lateral Fabrício, do zagueiro Paulão, do africano que foi agredido por seguranças do Inter e, mais recentemente, do zagueiro colorado Cuesta, que proferiu palavras racistas contra um jogador do Ceará.
Existem outros tantos fatos que, convenientemente, são ignorados por alguns, só para tentar dar credibilidade a um discurso frágil e estúpido, tentando auferir ao Grêmio - e aos seus torcedores - uma alcunha que, definitivamente, estamos longe de merecer. Nunca lembram que a estrela que brilha em nosso pavilhão trata-se de uma linda homenagem a Everaldo, que jogou e foi campeão do mundo em 1970. Ocultam que nosso hino (considerado o mais belo do país) foi escrito por um compositor negro e pobre. Isso deve dar um nó na cabeça de alguns!
Tentam vender o discurso de clube do povo, mas habitam em bairro nobre da cidade, em terreno doado, e que jamais viu as contrapartidas exigidas em decorrência da doação. Enquanto isso, o clube "das elites" do Rio Grande do Sul, mora lá no Humaitá, do lado da vila dos papeleiros. E não só habita lá. Se integra à comunidade através de seus projetos sociais, como o Instituto Geração Tricolor e o Comunidade Tri, que buscam ajudar seus vizinhos, tão esquecidos pelo poder público. Alguém fala algo sobre isso? Não, pois se isso fosse difundido, as falácias, há muito ventiladas nessa cidade, cairiam feito chuva do céu.
É você agora pode estar pensando que estou aqui tentando provar que, na verdade, o Inter é mais racista que o Grêmio. Nada disso. Na verdade, só estou demonstrando que quando alguém tenta grenalizar um assunto sério como o racismo, atirando pedras no telhado alheio, esquece que, muito provavelmente, tem um enorme telhado de vidro sobre sua cabeça.
Quando um idiota qualquer incita o ódio da população contra um clube apenas, como se toda a fonte de racismo no mundo fosse sua culpa, está, na verdade, criando um álibi para todos os outros racistas que existem, afinal, personificar o mau torna a vida das pessoas mais tranquila, uma vez que as exime de uma autoanálise verdadeira sobre seus atos.
Quem escreveu o tal texto do Rolo Compressor, não está combatendo o racismo. Longe disso. Ele só está polarizando uma situação que exige uma discussão profunda e séria, algo que nem de perto ele alcançou com seu texto.
Se alguns cânticos da torcida gremista, mesmo que de forma inconsciente por parte de alguns, fazem referência a um passado racista de nossa torcida, esconder debaixo do tapete o racismo de sua própria torcida é leviano, e não contribui para um combate efetivo contra a covardia que o racismo carrega.
Jamais me furtarei de discutir de forma coerente e séria esse assunto. Porém, quando alguém tentar ser leviano sobre assuntos como esse, responderei à altura, pois em nada ajudam na causa. Só pioram as coisas e fazem com que os que lutam de verdade sejam desacreditados.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Memórias

Quando a folha cai

amarela, triste com o tempo

E são apenas lembranças

Você ainda lembra do outono?

E no jogo de memória

o mosaico se molda

em imagens em preto e branco

e já não somos capazes de saber

o tempo que decorreu

Você ainda canta aquelas canções?

E quando a noite cai

o silêncio é o que resta

e o vazio da cadeira

se torna maior do que você

Você ainda sente medo?

E quando o vento encobrir tudo

a poeira do tempo acumulada

e o que restar

são apenas fragmentos

Você ainda pensará no que passou?

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Sentido da Morte (Contém Spoilers)

Sou um obcecado pela morte. Tenho verdadeiro fascínio sobre o tema. Fascínio este, despertado, provavelmente, pelo medo absurdo que tenho de morrer. Basta eu sentir uma dorzinha, ou um desconforto, que já imagino, no mínimo, dez doenças que podem me matar de todas as formas possíveis.

Esse antagonismo de sentimentos que vivem se chocando dentro de mim, inúmeras vezes, desde muito tempo. Tenho medo de morrer, mas quero saber mais e mais sobre isso. Sou tão obcecado que, certa vez, respondi a uma ex-namorada, quando ela me questionou qual era meu objetivo de vida: "Saber o sentido da morte!'.

Macabro, eu sei. Mas posso explicar: todos buscam o "sentido da vida". Porém, creio que tal significado habite em cada um de nós. É uma questão pessoal, intransferível e mutável, ao longo da vida. Já a morte, essa não tem sentido diverso. É o final, o desfecho de nossa passagem neste mundo. O fim da linha. É o que há de mais líquido e certo, e também, a coisa que nunca fomos capazes de entender.

A predominância das religiões existentes foi criada a partir de aspectos que não éramos capazes de explicar. Luzes que cortam o céu, hoje chamadas de raios, era algo inexplicável aos nossos antepassados. Não havia ciência, então, como explicar? Cria-se a mitologia de um ser superior que, quando sente raiva, descarrega sua ira sobre o planeta através de suas lanças de luz. Lanças estas, capazes de queimar árvores, matar animais, e matar a nós mesmos, se for o caso. Era o jeito mais simples de atribuir sentido as coisas. Foi o que ocorreu com a morte.

A pessoa simplesmente deixava de existir, quando a velhice chegava (fato esse que ocorria por volta dos 22 anos). Não sabíamos o que era aquilo, tampouco explicar tal fenômeno. E isso, acabou por nos causar muito medo. Moral da história? Temos um sem-fim de religiões, seitas e grupos que se unem ao entorno de um fim comum: atribuir sentido à morte.

Logo, me parece muito mais sensato e lógico buscar sentido de uma coisa que só deve ter um sentido, do que tentar adivinhar quantos milhões de sentidos que uma vida pode ter. E convenhamos que, apesar de ser apenas uma resposta, é, sem sombra de dúvidas, a maior resposta de todas. É a que faria tudo clarear. Terminaria as guerras, e viveríamos em um mundo mais calmo. Entendem a magnitude disso?

Mas voltando ao foco principal, parte do que pode explicar o sentido da morte, ao meu ver, é como vamos enfrentá-la. Tem um ditado que diz que herói, na verdade, é o covarde que não conseguiu fugir a tempo. Não creio que isso seja absoluta verdade. Embora eu tenha convicção de que fugir da morte não seja ato de covardia, até mesmo pelo ineditismo do fato. Claro, um ineditismo para mim, um ateu praticante. Religiosos podem me contrapor com Lázaro e Jesus, mas não gostaria de entrar nessa seara, pelo menos agora.

Creio que, no final das contas, se em muitas ocasiões é preciso de coragem para superar obstáculos, podemos considerar a morte o maior de todos eles. Por isso, o que define tudo, ao meu ver, é se encaramos isso de frente. Quando o juiz levanta a placa dos acréscimos, aos 45° do segundo tempo, a nossa postura frente ao apito final iminente é o que nos faz ter certeza de que tudo valeu a pena e que vivemos a vida da melhor forma possível.

Tenho muito medo de morrer, mas pretendo alcançar a maturidade e segurança suficientes para que, no dia que ceifador estiver parado ao meu lado, esperando meu derradeiro segundo chegar, eu possa olhar no vazio de seu capuz, e possa dizer: "Me leva então, seu grande filho da puta! Não tenho medo de você!". Entendo quem somos não é formado apenas de como vivemos a vida, e sim, como a deixamos. Precisamos de coragem, apesar do medo. Precisamos encarar de frente aqueles instantes finais, e isso, por fim, será o verdadeiro sentido de nossas vidas.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Não sois máquina

Com o tempo, aprendi a observar o que me cerca. Ouvir é muito mais importante que falar, em grande parte dos momentos. E, por ser um observador, tenho a percepção que a maioria das pessoas não sabe ouvir. Querem impor seus argumentos, suas lógicas e seus problemas, como se somente elas carregassem a resposta a todos os problemas e mazelas da humanidade.

Nós, humanos, temos essa estranha necessidade primordial de sermos o centro das atenções. Uma pessoa, ao compartilhar um problema, por exemplo, não tem a intenção de o dividir para achar uma solução. Quer, sim, te mostrar como ela sofre mais que o resto da população, e como seus problemas são enormes, muito maiores que teu entendimento sobre eles.

O mesmo vale para as "soluções mágicas". Experimente contar um problema de difícil resolução para você, e receberás uma resposta carregada de desdém e indiferença, pois, no final das contas, a empatia é cada vez mais ignorada.

Passamos por um processo hediondo de desumanização, onde ser percebido como uma máquina é motivo de orgulho para alguns. Porém, como disse Chaplin, em O Grande Ditador, "Não sois máquina! Não sois gado! Homem é que sois!". Por que buscamos essa superficialidade nas relações?

Soube ontem que grupos de extrema-direita europeus tentam sabotar barcos de regate de imigrantes que estão à deriva. Matamos pessoas por ideologia, ou para defender algo que julgamos ser nosso por convenção. É o fim.

Desenvolvemos tecnologias novas. Fomos à Lua, e queremos ir a Marte. Mas não conseguimos dar a mão àqueles que padecem. Não nos comovemos com aqueles que choram por estarem verdadeiramente sozinhos. Não nos compadecemos por aqueles que não tem mais nada, simplesmente porque perdemos a capacidade de sermos humanos. E isso dói demais.

Desejamos resolver os milhares de mistérios do universo, mas não conseguimos, nem ao menos, sermos solidários uns com os outros. Tornamos as vidas de nossos iguais em banalidade, onde um a mais, ou um a menos, não nos fazem diferença. Porém, toda a vida faz diferença! Talvez não para você, que já deixou de ser humano. Mas acredite: haverá uma pessoa para quem uma lágrima rolando significará a ausência daquele com quem você não se importa.